Mesmo sendo avisados de última hora, nossa rede bateu de relho, mostrou a força da rede social, da cidadania. No programa Conversas Cruzadas da TV Com de hoje, votaram 563 pessoas e destes, 51% querem a preservação do conjunto de casas da Luciana de Abreu. Os demais votaram pela construção de edifício e por uma opção mista.
Assim vamos vencendo, degrau a degrau, mesmo tendo do outro lado um considerável poder econômico e político, siameses, contra uma comunidade.
Segue abaixo um texto que mostra o olhar de um estudante de arquitetura sobre o Moinhos de Vento. Será mera coincidência, Frieder ter reconhecido os mesmos valores que a comunidade? NÃO, com certeza, NÃO. As antigas casas do Moinhos de Vento é que formam a identidade do bairro Moinhos de Vento.
Para redescobrir a arquitetura da região
O cotidiano, muitas vezes, é um entrave para observarmos com atenção o ambiente a nossa volta. Já quando estamos viajando, temos uma avidez por observar tudo, dos costumes às construções – há mais tempo para olhar o entorno. O estudante de arquitetura alemão Frieder Vanbaams, que veio para o Brasil para estudar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, explorou Porto Alegre em algumas caminhadas. O resultado do passeio pelos bairros Rio Branco, Independência e Moinhos você confere nestas duas páginas.
“Durante um final de semana em Porto Alegre, saí para fazer uma caminhada pela cidade. Passei pelos bairros Rio Branco e Independência, mas o objetivo principal, após um almoço no bairro Santana, foi conhecer a arquitetura do Moinhos de Vento e tomar um café por lá. O dia estava agradável, e não tão quente. Lembrei-me da minha terra natal, a Alemanha. Viajei ao Brasil para estudar arquitetura no Rio de Janeiro, e fiquei feliz em encontrar essa outra cara do Brasil em Porto Alegre e, sobretudo, nesse passeio exploratório.
O que encontrei no Sul, ainda mais no bairro Moinhos de Vento, foi a tranquilidade, uma beleza mais silenciosa. Observei que as casas são diferentes entre si, parece que não foi seguida uma regra rígida ao serem construídas, ao contrário do que vemos em muitas cidades europeias: elas têm origens e foram feitas em períodos distintos, mas convivem na paz, harmonicamente. Essa parte da cidade tem uma cara bem única. Tem casas do modernismo, algumas em estilo internacional, outras com um toque mais brasileiro. Construções em concreto, formas lindas, cores diferentes. E ao lado, pode ter uma casa bem menor, mais velha, neocolonialista, uma casinha de madeira, um pouco perdida, mas que se encaixa bem no contexto da rua. Todos elementos estão bem entrosados.
Um bairro não precisa ter imóveis todos da mesma altura, cores e estilos parecidos para ser lindo. E mais: a atmosfera de um acordo silencioso entre essas casas variadas deixa feliz o pedestre que passeia pelo bairro. Foi isso que eu senti ao percorrer as vias Ramiro Barcelos, Gonçalo de Carvalho, Pinheiro Machado, Jardim Cristofel, 24 de Outubro, Padre Chagas, Luciana de Abreu e os jardins do Dmae. É um museu do dia a dia, do cotidiano, múltiplo, interessante, às vezes, engraçado, às vezes um pouco estranho. Deixei a cidade feliz em ter descoberta esse outro lado do Brasil.”
O AUTOR
- Nome completo: Frieder Vanbaams
- Profissão: estudante
- Cidade natal: Tübingen (Alemanha)
Fonte: Zero Hora - 03 de outubro de 2013 | N° 17572
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