Moradores pedem alteração em projeto de hotel no Centro
Para tentar resolver um impasse entre moradores do centro da
cidade e os proprietários de um imóvel que querem construir um hotel na região,
a Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação (Cuthab) foi até o local, na
manhã desta sexta-feira (4/10), ao lado do museu Júlio de Castilhos (na rua
Duque de Caxias, 1.195), para conhecer a obra e conversar com a comunidade. A
questão envolve um projeto arquitetônico (dos anos 90) para a construção de um
hotel e que, entre outras questões, prejudicaria a estrutura do museu público.
Um dos proprietários, Vitório Píffero, relatou que as obras
foram iniciadas pelo edifício garagem, com entrada na rua Espírito Santo, ainda
em 1998, mas foram interrompidas em 2001 por opção dos investidores. Em 2008,
com a aprovação do Estatuto das Cidades, houve uma série de alterações nos
conceitos urbanísticos, tanto que o Plano Diretor de Porto Alegre se adaptou às
novas negras, em 2010. Em 2012, na tentativa de retomada do empreendimento, os
proprietários se depararam com esta inadequação.
Contudo, o Projeto de Lei (PL) do Executivo 38/12, que está
tramitando na Casa, estabelece incentivo
ao setor privado para a adequação de prédios inacabados no Centro Histórico. De
acordo com a proposta, construções que estivessem paradas, mas com ao menos as
fundações iniciadas, poderiam ser concluídas, desde que adaptadas às normas
atuais como as de acessibilidade e combate a incêndio. No entanto, estes
projetos estariam desobrigados, por exemplo, a cumprir as novas exigências de
volumetria, impacto de vizinhança e ambiência, obrigatórias de 2010 em diante.
A situação mostra-se ainda mais confusa uma vez que o
terreno em questão era composto por mais de um registro de imóveis, que foram
unificados em 1993. Do empreendimento de 10 mil metros quadrados, os dois mil
já construídos encontram-se numa parte que tem saída para a rua Espírito Santo
(o edifício garagem). Na parte em que os
investidores pretendem erguer o hotel não há fundações ou qualquer outro sinal
que indique que as obras foram iniciadas. Enquanto os moradores alegam que se a
construção não começou, ela não se enquadraria ao PL do Executivo, o
proprietário alega que, como é uma matrícula apenas e o hotel e o edifício
garagem constituem um único imóvel, a edificação já foi iniciada e, portanto,
deve ser contemplada pela nova legislação – caso esta seja aprovada.
Paulo Guarnieri, presidente da Associação Comunitária do
Centro Histórico, é contrário ao PL e defende que todos os projetos devam se
adequar ao Plano Diretor, sem exceção. “Isto é um casuísmo. É uma forma de
fazer um projeto arquitetônico construído sobre um marco urbano ultrapassado
ser efetivado. Um projeto que vai contra a legislação atual”. Já Píffero
defende que “o hotel irá ajudar a reavivar a região”.
Diante disso, após ouvir as duas partes, a Cuthab decidiu
constituir um grupo de trabalho para intermediar as negociações com a
prefeitura. “Existem questões de ordem técnica que não cabem aos vereadores. No
entanto, a vinda aqui serviu para que o diálogo fosse estabelecido, uma vez que
o proprietário sinalizou que quer conversar para achar uma alternativa, talvez
até modificando o projeto inicial”, explicou o vereador Delegado Cleiton (PDT),
presidente da Comissão, defendendo que este caso seja analisado de forma individualizada
– o PL prevê mais três situações semelhantes a esta.
Julio de Castilhos
A construção do hotel de 13 andares, uma vez terminada, irá
interferir diretamente na vida dos moradores do prédio ao lado, também de 13
andares, que perderão boa parte da exposição solar que têm hoje, Contudo, eles
alegam que o principal motivo das reclamações refere-se ao museu Julio de
Castilhos, que poderia sofrer impactos negativos, inclusive na estrutura. “O
que nós pretendemos é que o prédio do museu não seja atingido”, garantiu Naira
Vasconcelos, que junto com outros moradores segurava uma faixa com os dizeres:
“a história de muitos versus o lucro de poucos”.
Píffero, contudo, garantiu que o prédio não sofrerá qualquer
tipo de dano e, mais do que isto, com um hotel ao lado, a tendência é o aumento
dos visitantes. “Nós estamos querendo trazer turistas para o Centro Histórico.
Se isto é ruim, o que é bom?”, questiona o empresário.
O diretor do Museu, Roberto Schimitt-Prym declarou que o
secretário de Cultura do Estado, Luiz Antonio de Assis Brasil, encaminhou
documento não colocando objeção ao projeto do hotel, com base em estudos dos
Institutos do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Estado
(Iphae).
Participaram da visita os vereadores João Carlos Nedel (PP),
Fernanda Melchionna (PSOL), Alceu Brasinha (PTB), Marcelo Sgarbossa (PT), Sofia
Cavedon (PT), Márcio Bins Ely (PDT), Mauro Pinheiro (PT) e Bernardino
Vendrusculo (PROS).
Texto: Gustavo Ferenci (reg. prof. 14.303)
Edição: Marco Aurélio Marocco (reg. prof. 6062), 04.10.2014
Fonte: http://www2.camarapoa.rs.gov.br/default.php?reg=20435&p_secao=56&di=2013-10-04
Reunião aconteceu no local. Foto: Ederson Nunes
A obra está parada desde 2001. Foto: Ederson Nunes
Fonte: http://www2.camarapoa.rs.gov.br/default.php?reg=20435&p_secao=56&di=2013-10-04
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