quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Postagens falsas contra o patrimônio de Porto Alegre


Por aqui, as coisas não são nada fáceis na briga pela defesa do patrimônio cultural. Muitas são as dificuldades e barreiras a serem enfrentadas na tentativa, quase desesperada, de preservar a memória das cidades e das comunidades. Não bastasse a imensa desproporção de forças entre o capital e os interesses sociais, existe a desinformação a respeito dos instrumentos de proteção, como o inventário e tombamento, não havendo uma cultura local voltada para o cuidado com o coletivo.
O cenário é assustador e, nesse sentido, nada mais eficiente do que minar a opinião pública com postagens falsas, que tentam direcionar para a aceitação pacífica da degradação da cidade. Foi o que aconteceu recentemente no episodio das casas da Luciana de Abreu. Depois da mobilização da cidade em torno da proteção daqueles imóveis, foram plantadas várias opiniões favoráveis ao acordo feito pela construtora e o Ministério Público. Para quem não sabe, tal acordo possibilitava a demolição de três das seis casas, o que passava quilômetros do que era pretendido pela população.
Essa prática foi identificada pelo professor da Comunicação da PUCRS, Marcelo Träsel, em seu blog, onde ele indica como checar fontes e identificar manipulações em redes sociais. Lá há um tutorial que demonstra as características das postagens falsas, tendo como exemplos práticos personagens parabenizando o “acordão” que envolveu as casas da Luciana de Abreu. Vale conferir, para ver até que ponto pode-se chegar e o quanto ficam claras as regras do jogo. E é isso que precisamos: conhecer as regras do jogo, para tentar jogar melhor. Saber que nem sempre tudo aquilo que lemos corresponde à verdade e que precisamos continuar mobilizados por aquilo que acreditamos.
Felizmente, o acordo entre a construtora e o procurador do Ministério Público não foi referendado pelo Conselho Superior da instituição. Um recurso foi encaminhado aos tribunais superiores e uma liminar, no momento, impede a demolição imediata de qualquer uma das casas.
Enquanto isso, a comunidade, representada pelo Movimento Moinhos Vive, aguarda pacientemente o pronunciamento do Conselho do Patrimônio Histórico Cultural (COMPAHC) sobre o valor histórico do conjunto arquitetônico. Há pelo menos 3 semanas, o pessoal fica aguardando do lado de fora da sala de reuniões, para saber se os “sábios” conselheiros chegaram a uma conclusão. O que me parece um total absurdo: um conselho municipal que não tem a direta representação popular e do qual não se tem facilmente a nominata de seus componentes, quando a transparência e a participação popular são determinadas por lei.
Para mim, foi surpreendente saber que existe uma ação orquestrada para tentar contaminar a opinião pública. Por outro lado, isso nos mostra o poder que temos. Precisamos estar preparados para as lutas locais que continuam se sucedendo: o Museu Júlio de Castilhos ameaçado, o Cais sendo privatizado, o bairro Menino Deus deixando de ser residencial para ser comercial, o Parque Gasômetro sendo retalhado e tantas outras. As mobilizações que ocorreram no país no meio do ano nos deram uma amostra do nosso poder. E podemos mais. Podemos muito.

About the Author

 formada em medicina e em artes plásticas pela UFRGS, mas agora, advogada, apostando no "escritório do bairro" Gonsales & Custódio. Exercitando escrita, cidadania e boas amizades, tem um blog chamado "Chega de demolir Porto Alegre", que denuncia os atentados contra o patrimônio afetivo da cidade e a devastação das construtoras na memória urbana. Em luta pela implantação Centro Cultural Zona Sul, mantém uma FanPage com essa ideia, além de participar em movimentos que tenham como objetivo a preservação do meio ambiente e patrimônio cultural de nossa cidade.

Fonte: http://meubairropoa.com/opiniao/jacqueline-custodio/postagens-falsas-contra-o-patrimonio-de-porto-alegre/

Nenhum comentário: